sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Transposição Didática

Nós, como educadores, que temos como meta e finalidade a aprendizagem de nossos alunos não podemos transmitir o saber matemático da mesma forma como ele é trabalhado no âmbito científico. Porque esse tipo de conhecimento exige um elevado grau de abstração lógica, conceitual, não condizente com nossa realidade, já que estamos trabalhando com alunos. Cabe a nós professores adequarmos esses conteúdos à realidade de nossos educandos transmitindo-os de forma contextualizada, auxiliando-os na abstração dos conteúdos. Esse elemento de ligação entre o conhecimento científico e o conhecimento que o aluno é capaz de aprender e produzir é denominado Transposição Didática.
Chevallard (1991) conceitua a Transposição Didática como o trabalho de fabricar um objeto de ensino, ou seja, fazer um objeto de saber produzido pelo sábio (o cientista) ser objeto de saber escolar. É um instrumento através do qual analisamos o movimento do saber sábio (aquele que o cientista descobre) para o saber a ensinar (aquele que esta nos livros didáticos) e através destes, ao saber ensinado (aquele que realmente acontece em sala de aula).
Existem dois tipos de transposição:
A transposição de conhecimentos que é a bagagem individual e cultural de cada pessoa, produzida e assimilada em seu meio e transmitidas a outro indivíduo, que é sempre acompanhada pela assimilação e é mediada por alguém, que após ser transferida de uma pessoa para outra sofre uma transformação, devido às interpretações e adaptações do sujeito ao formar seu conceito sobre determinado assunto. O professor deve estar sempre atento ao transmitir um conteúdo para o aluno, para não correr o risco de expor suas idéias e ele interpretar de forma errônea.
Já a transposição do saber científico é o conhecimento de uma sociedade, que é validado por uma comunidade científica, transformado ou adaptado para amplos setores da população.
A transposição didática não ocorre somente em sala de aula, ocorre também no momento em que o educador destaca conteúdos que farão parte de uma proposta curricular nacional para o ensino básico, a partir dessa proposta são feitas transposições na elaboração das propostas estaduais e depois, nos municípios e escolas. Os autores de livros didáticos também fazem transposição no momento em que transpõe os conteúdos adaptando-os a cognição e interesse dos alunos. Também deve ser levado em consideração o cotidiano dos educandos, para que dessa forma, o novo saber não esteja fora da realidade dele, tornando-se mais significativo e possivelmente melhorando a sua compreensão.
Ao recriar o saber matemático, produzindo o saber didático, o professor é influenciado por suas próprias concepções a cerca do que é matemática. O seu papel enquanto educador depende exclusivamente dele e do que ele entende por Educação Matemática. Muitos docentes ainda dão aula da mesma forma com que eles aprenderam, de forma tradicional, onde o mesmo expõe o conteúdo, passa exercício e depois corrige, e o aluno apenas reproduz o que viu durante a aula, não havendo reflexão a cerca do conteúdo nem interação entre ambos.
Também é possível que o professor veja a matemática como uma ciência que tem forma única, ou em uma versão oposta, como uma ciência que pode ter múltiplas formas. Muitas vezes o educador ao explanar determinado conteúdo utiliza-se de apenas uma estratégia para se obter o resultado esperado e o aluno não consegue assimilar o assunto em questão. Mas se ele utiliza de diferentes estratégias, será muito mais fácil para o aluno compreender aquele conteúdo, porque ele terá um leque de opções para se chegar ao caminho almejado.
A matemática também pode ser vista como uma ciência feita só de abstrações ou ao contrário, uma ciência integrada a atividades humanas. Quando o professor utiliza em sua metodologia apenas fórmulas, regras, demonstrações, a compreensão do conteúdo se torna mais difícil. Mas se ao invés disso o educador integra ao conteúdo situações problematizadoras voltada para seu contexto social e real, a aula se torna mais prazerosa, significativa para o aluno e consequentemente mais eficaz.
Situações problemas são momentos ricos para os alunos buscarem conhecimentos que já tem e perceberem que outros lhes faltam. Nesse inter-relacionamento é que se constrói o currículo em rede. Através das situações problemas os alunos inventam estratégias, criam idéias, além de representar um grande desafio para o mesmo ajudando assim a entender melhor a matemática, desenvolvendo competências, habilidades e outros saberes novos ou já construídos, que será explorado por uma multiplicidade de conceitos e procedimentos que se articulam entre si, permitindo ver o conhecimento matemático como algo dinâmico, interativo e complexo.
Mas há professores que nem tentam realizar a transposição didática. Isso porque é muito mais cômodo para ele continuar na sua zona de conforto, seguindo apenas o livro didático e expondo o conteúdo a ter que organizá-lo, adaptando-os de acordo com a necessidade da turma.
Uma primeira competência do professor de matemática é relacionar-se bem com a matéria, conhecer e refletir sobre seus conteúdos, entender as relações entre eles e perceber a relevância dessa ciência no mundo real. Não basta apenas gostar da disciplina e saber o conceito, o mais importante é saber expor suas idéias e fazer um paralelo entre o conteúdo e a realidade, é conseguir conduzir o aluno a aprendizagem significativa.
Não existe uma metodologia pronta e acabada a espera do professor para ser aplicada aos alunos. Até porque não existe discente, sala, escola igual. Cabe ao educador analisar cada situação para poder transpor de forma didática e plausível esse conhecimento transmitido, sem descaracterizar a produção matemática desenvolvida ao longo dos séculos.
Há necessidade de planejar com cuidado a transposição didática tendo clareza sobre o que realmente é um fato matemático que deve ser transformado em objeto de ensino. Cabe ainda reconhecer quando um objeto de ensino não é um objeto matemático, mas uma criação didática pra facilitar a transposição didática. O objeto de ensino merece ser estudado, aprofundado e relacionado e o conteúdo é uma ferramenta didática que auxilia a aprendizagem. Os instrumentos como tangram, mosaico, muitas vezes são confundidos com objetos de ensino e o trabalho com eles não garantem a aquisição desses conceitos. Muitas vezes o professor utiliza desses materiais concretos para dinamizar as aulas, e torná-las atrativa ou até mesmo para compreender determinado conteúdo, mas naquele momento não ocorre à construção do conhecimento.
Na transposição o conhecimento matemático científico e o conhecimento matemático cultural devem se articular, cabendo ao professor contextualizar de forma significativa esse saber matemático. Na transposição didática o trabalho do educador é o inverso do pesquisador, porque o pesquisador busca níveis elevados de abstração e generalidade e o educador deve recontextualizar o conteúdo dando significado para o aluno.
O trabalho intelectual do aluno não pode ser comparado com o do matemático ou do professor, mas o educando deve ser estimulado a realizar um trabalho em direção a uma iniciação científica isso acontece a partir do momento que ocorre a investigação de um problema matemático.
É essencial que saibamos como trabalhar de uma forma mais estimulante e é claro, de forma que o aluno realmente aprenda o que está sendo ensinado. O método da investigação faz com que ele pesquise e assim, com certeza aprenda. Com esta didática, podemos ligar o conteúdo ensinado com a realidade do educando.
Autor:Sabrina Mascarenhas

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